quinta-feira, 31 de julho de 2008

Viva a Espanha!

Das anotações de Milla Kovac

- Eu não vou ficar andando com aquela garota Bouvier, eu estou namorando a Milla e é sério.- disse Luka enquanto batia a mão na mesa da biblioteca de seu pai.
- Reconheço que Ludmilla é uma garota bonita, mas ela não é do nosso nível social. Você vai fazer o que eu mando: durante o casamento de sua irmã vai ficar com a jovem Savannah, eu já acertei tudo com o pai dela. E fale a verdade: estar com a Milla é apenas um capricho da sua parte, vocês são muito diferentes.
- Os tempos mudaram e não se arranja mais compromisso como no tempo dos meus avós. E entenda: eu gosto da Milla, temos muito em comum...
- Ah claro; umas partidas de quadribol, os torna compatíveis. Cresça Luka! Não sei como um garoto como você pode se envolver com uma menina que adora as coisas simples da vida, não é sofisticada, e não tem as conexões que a família Bouvier tem.
- Não ligo pra isso. Milla, é doce, gentil, amorosa, e você gostava dela...
- Eu gosto da Ludmilla sim, mas não a desejo como minha nora. No máximo uma parente distante.
- Mas o irmão dela vai se casar com Irina... Porque você o aceitou?
- Irina não me serve de muita coisa, então ela poderia se casar com um trouxa, que eu não ligaria, mas você tem a obrigação de perpetuar nosso nome.
- Posso fazer isso com a Milla. Ela é puro sangue. - e o homem mais velho riu desdenhosamente:
- Diga-me, você vai ser feliz comendo pipoca com um refrigerante no parque com ela quando a sua mesada acabar? Ou contando os galeões como já vi Goran fazer para pagar as contas da casa no fim do mês? Não precisa responder, eu o faço por você: Não! Você não sabe sequer o que é passar por necessidade e se não quiser começar agora, vai fazer o que eu quero...
- Tenho direito à herança da minha mãe, e você não pode mexer nisso. Já sou maior de idade...
- Você se esquece que sou eu que administro os bens de sua mãe, e posso bloqueá-los a qualquer momento. Quer pagar para ver? - ficaram se encarando por alguns segundos quando o garoto disse:
- Vou fazer como você quer, pelo menos por enquanto, pois quero que esteja tudo bem no casamento da Irina. Mas um dia eu vou estar livre de você e fazer o que eu quiser...
- Ninguém é livre de verdade Luka. Todos têm deveres e responsabilidades. E a sua é com a nossa família, e você só vai estar livre de mim, no dia em que eu morrer.
- É pelo menos sei que um dia você vai morrer. - e saiu da biblioteca batendo a porta furiosamente.

o-o-o-o-o-o

- Quando você chegar lá, você me manda uma coruja...
- Ok.
- Não vá comer coisas muito estranhas, pode ficar doente...Não esqueça o casamento do seu irmão...
- Mãe, não vou para Lua, estarei na casa da tia da Evie, você sabe que eles são legais. E é impossível esquecer que Yuri vai casar, a senhora fala isso umas 10 vezes por dia. - meu pai riu e minha mãe acabou relaxando.
- É, tenho te deixado louca, ficaria mais tranqüila se Luka fosse, mas...
- ‘Não é todo dia que um filho meu se casa’ e é um passeio de meninas, menino não entra. - respondi e antes que ela dissesse mais alguma coisa, dei-lhe um beijo estalado, e toquei na meia embolada, que era a chave de portal que me levaria até a casa da Evie para minhas duas semanas de férias.

Quando cheguei na Espanha, Vina, e Nina já estavam lá, e aí fiquei sabendo que Annia não se encontraria conosco, porque haviam seqüestrado o irmão do Ty, e ela não queria sair de lá, num momento ruim destes. Pelo pouco que ela contou na carta que enviou a Evie, a mãe de John já não gostava dela, e num momento destes deixar de apoiar a família do namorado para ir se divertir numa “Plaza de Toros”, seria assinar o atestado de “você tem razão: não sirvo para o seu filhinho” rsrs.
Durante o dia íamos a museus, shows de dança flamenca nas praças, fazíamos compras, tomávamos sangria bem gelada e comíamos tapas, nos vários restaurantes que havia por lá. Os primos de Evie que mais saíam conosco eram: Marta, Afonso, Santiago, Mario e Diego. Íamos a todos os lugares e à noite, sempre havia algum lugar para dançar ou mesmo só ficar bebendo e conversando até tarde. Evie marcou até para irmos assistir uma tourada, e estávamos ansiosas. Afinal, não se está na Espanha se você não gritar olé! E como Afonso, era doido para participar de uma, ficou todo animado.
- Se você entrar na arena, vai morrer duas vezes: uma pelo touro e a outra vai ser depois que eu te ressuscitar, garoto. - avisou tia Madalena, a mãe dele, para decepção de Mario e Diego que quase o convenceram a enfrentar o touro.

- Não mata o touro! Seu assassino! Insensível!
- Milla, sai de cima deste muro. As pessoas vão nos expulsar daqui...- dizia Evie envergonhada enquanto seus primos riam.
- Mas ele vai matar o touro com as espadas Evie...Fuja Bandido!- disse indignada.
- Claro que vai matar o touro, é por isso que estamos numa tourada, Milla. - respondeu Nina, tirando os óculos escuros e o chapéu que estava usando como disfarce desde que eu passei a fazer torcida para o touro.
- Milla, há anos que isso é assim, deixa o toureiro em paz. Aproveita o espetáculo. - disse Vina, gritando olé, quando o toureiro fez um movimento com a capa vermelha e jogou charme para a platéia.
Os primos de Evie, Mario e Diego, estavam adorando a farra e gritavam junto comigo:
-Tooouuuuuuurooooo!Touroooooooo!- com direito a coreografia, e fazendo chifrinhos com as mãos. Algumas pessoas que deviam ser turistas acharam aquilo engraçado e aderiram ao movimento. Apesar da nossa torcida empolgada, no final o toureiro venceu, e foi uma coisa muito legal de se conhecer.

Tarde da noite, conversávamos sobre as nossas vidas e após várias jarras de sangria, já ríamos até da luz que às vezes piscava sozinha.

- Então... Micah...Beija muito?- perguntei e Evie respondeu rindo:
- Com ele tudo é muito intenso...- e botou a mão na boca rindo, quando gritamos uhh! E Nina disse:
- Pelo menos é um muito intenso ‘feliz’, não é um ‘muito intenso’ desgastante. - E numa voz pastosa imitou Michael:
- ‘Ninnys, eu te amo tanto que chego a sentir que meu coração vai parar...’ Porque o coração dele num pára hein??? Ops, que feio! - e rimos da sua cara culpada.
- Luka, fica nervoso algumas vezes e vacila... - coloquei a mão na boca e elas me olharam espantadas, mas logo caímos na risada.
- Graças a Merlim sou poupada disso, quando Michael vem para o meu lado cheio de amor para dar, digo que estou com enxaqueca, e ele é tão grudento que até fico doente de verdade. - confessou Nina.
- Mas se é assim, porque você não termina com ele?- perguntou Marta e Nina após olhar para a bebida de cor avermelhada de seu copo, respondeu séria:
- Seria o normal, mas com Michael nada é ‘normal’. Ele pode morrer. - e quando Marta riu, ela disse:
- Tô falando sério: ele morre. Não quero ser conhecida como a “papa defunto” e Vina respondeu rápido:
- Mas você não ‘papa’ o Michael... Só se isso for o sonho dele. - e quando ela disse isso rimos tanto, pois Nina disse um “desconjuro”, que chegamos chorar. Nesta hora tia Madalena entrou trazendo mais uma jarra enorme de sangria, e já entrou no quarto rindo, pois ouvira um pouco de nossas besteiras.
- Victor às vezes grita, parece que está no meio do jogo de quadribol. Tão estranho ouvir: ‘vou marcar’, ‘vou marcar’, ‘Vou...Marcar...’- aí para animar a conversa gritamos gol, e rimos.
- É pelo menos ele avisa que vai marcar e marca de fato. Luka quando bebe demais, parece uma máquina de repetição, quando você pensa que vai, ele começa tudo de novo. Pior que sem o botão de liga e desliga. - eu disse enquanto tia Madalena colocava mais sangria em nossos copos.
- Micah gosta de ficar abraçado depois...- disse Evie sonhadora, e dissemos juntas:
- Ôôôhn, que bonitinho! Ele é meiguinho...
- Opa! Não tem nada de ‘inho’ no Micah, não. - defendeu Evie e aí a conversa ficou mais animada. Não lembro quando fomos dormir, só lembro de acordar e sentir que um elefante estava sentado na minha cabeça, mas eram as férias mais animadas da minha vida.